quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Potosi, na metade do topo do mundo (dezembro/2011)

POTOSI (4.070m altitude)

Pela manhã do dia seguinte, contratamos um taxi (compartilhado com mais duas pessoas, a R$ 15,00 por cada um) para irmos a Potosi, que fica a 160km de Sucre.
A paisagem montanhosa parecia ser bonita, mas, como tenho facilidade de enjoar em estradas sinuosas, dispensei a paisagem, fechei meus olhos e tentei cochilar.
Com uma altitude de 4070m, Potosi é considerada a 3a cidade mais alta do mundo!






Fundada em 1545, Potosí viveu dias de glória em razão da se sua prata e no século XVI era a cidade  mais rica e mais populosa do mundo (atrás apenas de Paris).
A lenda corrente é que, com toda a prata que foi extraída de Cerro Rico (a montanha de onde a prata era extraída), seria possível construir uma ponte de prata indo de Potosí a Madrid e outra de ossos e restos humanos de pessoas mortas nessa exploração, voltando de Madrid a Potosí.
As minas continuam funcionando em Potosí de onde se extrai prata (de qualidade inferior) e o estanho.
Nos dias de hoje, é uma cidade pobre, porém conhecida pelo seu vasto patrimônio arquitetônico. A Catedral Gótica e a Casa da Moeda são exemplos desse patrimônio e  a cidade foi declarada Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Ficamos no Hotel Gran Libertador (US 50,00). Hotel simples, limpo e agradável.


    As ruas da cidade, com Cerro Rico ao fundo

Logo que chegamos fomos almoçar em um restaurante chamado San Marcos.
Eu já havia me perguntado se comiam carne de lhama. Pois comem sim e foi o que pedi nesse restaurante: "Pique a lo macho de lhama”. É uma carne gostosa, mas achei um pouco dura.


   Pratos de lhama acompanhados da cerveja "mais alta do mundo"



Depois do almoço fui descansar no hotel. Já tinha lido vários relatos aconselhando que não devemos nos movimentar muito no primeiro dia em uma cidade de grande altitude.
Quase à noite, precisamos sair para comprar o tour para visitação às minas e depois fomos ver o centro de Potosi.


   Praça da cidade

Potosi é bem menor que Sucre. Ruas estreitas, poucos carros e pouco movimento. O mesmo sobe e desce de ladeiras, que, por causa da altitude, me deixavam cansada e com o coração acelerado (quando a ladeira era subindo).
A pracinha principal da cidade estava toda enfeitada para o natal. Tinha até um palco armado onde iriam ter umas apresentações musicais. Mas nessa hora comecei a sentir minha cabeça pesando. Fui para o hotel. Qualquer movimento cansava muito e eu ficava ofegante. A dor de cabeça aumentou e precisei tomar duas neosaldinas. O jeito foi esquecer a festa na praça e tentar dormir.
Até hoje me questiono se a dor de cabeça foi da altitude ou da cerveja Potosina que tomei no almoço....


   Pracinha à noite com as luzes da "navidad"
  
Na manha seguinte, felizmente acordei bem e disposta (um ponto pra cerveja).
Contratamos uma agência a Bs 80,00 (R$20,00) para irmos às minas.
Domingo é dia de folga dos mineiros e não existem tours às minas. Por sorte encontramos uma agência que faz a visita mesmo assim.
A agência nos empresta botas de plástico, roupa impermeável e um capacete com lanterna.


                  A caráter pra entrar nas minas

Antes de subirmos no Cerro Rico, paramos em uma rua com vendas para comprarmos "regalos" para os mineiros. Apesar de ser domingo, o guia falou que pode ter um ou outro trabalhando e é preciso que levemos esses presentes para eles.
Os presentes são as coisas que os mineiros usam enquanto trabalham: folhas de coca, cigarros, álcool potável com 96% de teor alcoólico, refrescos e dinamites. Sim, em Potosi vende-se dinamite livremente para serem usadas nas minas.



                  O álcool bebido pelos mineiros no trabalho: 96o de volume alcoólico


    Dinamite

Em pouco tempo chegamos ao Cerro Rico. 4.300 metros de altitude.
O guia falou que em dias normais de trabalho, cerca de 15 mil mineiros estão dentro das montanhas. São mais de 400 buracos de entrada para as minas.
Lá esses mineiros cumprem turno de trabalho de no mínimo 8 horas.
Durante esse tempo, eles não comem nada, já que o contato da comida com os gases tóxicos das minas faria mais mal que passar algumas sem comer. Por isso a folha de coca é tão consumida por eles, pois dá energia e tira a fome.
Os mineiros, por causa dos gases tóxicos dentro das minas vivem pouco. Como muitos começam a trabalhar com 12/15 anos, a expectativa de vida vai no máximo a 50 anos.

   Entramos na mina chamada Rosário

    Entrada da mina

Entramos na mina e a temperatura é agradável, apesar de existirem trechos mais quentes. Os caminhos são estreitos e baixos. Muitas vezes temos que andar abaixados (entendi o porquê do capacete) e teve um trecho que tivemos que ir engatinhando. 




De quatro
Tudo é feito manualmente.
Encontramos somente dois trabalhadores. Nos disseram que estavam trabalhando desde as 4 horas da manha, pois na 2a. feira não poderiam trabalhar.
No interior da mina fomos apresentados à estatua do "Tio", ou "El Diablo".


   O guia, "El Tio" e eu


El Tio também é muito "disposto". É a fertilidade para os mineiros
Foram os espanhóis que criaram esse mito com o objetivo de colocar medo nos nativos, para que eles pudessem trabalhar sem reclamar.
Hoje em dia, "El Tio" não amedronta mais os mineiros. Eles pedem proteção e fazem oferendas de cigarros, álcool e folhas de coca.
No início estas estátuas eram feitas em prata, mas após inúmeros saques, restam apenas as de argila.
Depois de quase duas horas dentro da mina, retornamos à cidade.


   A vista do Cerro Rico, com a cidade de Potosi embaixo

Domingo Potosi fica meio deserta, com tudo fechado. Ainda chegamos a ir a uma feira dessas bem populares. Era hora do almoço e várias barraquinhas faziam churrasco, vendiam sucos coloridos, mas a chuva e o medo de cansar por causa da altitude, me fizeram voltar ao hotel.
Felizmente nesse dia, além do cansaço ao subir ladeiras ou escadas, que é absolutamente normal, não senti nada de dor de cabeça (também não tomei cerveja e masquei algumas folhas de coca dentro da mina).
Acho que os dois dias em Sucre serviram de adaptação.
Dormi cedo para na manhã seguinte encarar uma viagem de ônibus à cidade de Uyuni e finalmente conhecer o famoso salar.


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